sexta-feira, 16 de abril de 2010

dá-lhe... MANIFESTO BAUMAM - parte 01





esse texto não é pra todos!!!




 no Rio de Janeiro ...

O favelado é o alter ego do morador da zona sul. Ele é também o mais ardente admirador do morador da zona sul - tanto mais pelo fato de não ter uma noção das inconveniências reais, que não são muito comentadas, da vida do morador da zona sul. pergunte aos favelados que tipo de vida gostariam de ter se pudessem escolher e você terá uma descrição bem aperfeiçoada da alegria do morador da zona sul "tal como vista na tv". os favelados não tem outras imagens boa da vida - nenhuma utopia alternativa, nenhuma agenda politica própria. A única coisa que querem é permissão para serem moradores da zona sul - "como qualquer outro..."

tanto o morador da zona sul como o favelado são consumidores - e os consumidores dos tempos modernos avançados ou pós-modernos são caçadores de emoções e colecionadores de experiências; sua relação com o mundo é primordialmente estética:
ambos percebem o mundo como um alimento para a sensibilidade, uma matriz de possíveis experiências (experiências que se vivem e não experiências que se sofrem) -
ambos "saboreiam" o mundo, como os experimentados frequentadores de museus saboreiam o tete-a-tete com as obras de arte. os dois são tocados - atraídos ou repelidos - pelas sensações prometidas.

essa atitude em relação ao mundo une-os, faz um igual ao outro. esse é o tipo de semelhança que permite que os favelados simpatizem com os moradores da zona sul. pelo menos com a imagem do morador da zona sul, e desejem participar de seu estilo de vida; mas isso é uma semelhança que os moradores da zona sul se esforçam em esquecer, embora para seu desânimo não possam reprimir de fato inteiramente.

o segredo da sociedade atual está "no desenvolvimento de um senso de INSUFICIÊNCIA ARTIFICIALMENTE CRIADO E SUBJETIVO" - uma vez que nada poderia ser mais ameaçador para seus princípios fundamentais do que as pessoas se declararem satisfeitas com o que têm.
o que as pessoas tem de fato é assim diminuido e "manchado" pelos mais favorecidos através de insistentes e excessivas exibições de aventuras extravagantes: "assim os ricos se tornam objetos de adoração mundial."

mas, não é mais o rico em sí, o herói digno de adoração universal. o objeto de adoração agora é a propria riqueza - a riqueza como garantia de um estilo de vida mais extravagante e pródigo. o que importa é o que se pode fazer, não o que deve ser feito ou o que foi feito.
universalmente adorada nas pessoas ricas é a sua maravilhosa capacidade de escolher como levar a vida, os lugares onde viver, os companheiros para partilhar esses lugares e de mudar tudo isso à vontade e sem esforço. essas pessoas são guiadas pela estética do consumo; é a exibição de um gosto estético extravagante e mesmo fútil, não a obediência à ética do trabalho ou o seco e puritano preceito da razão, não o mero sucesso financeiro, que está no coração da grandeza a elas atribuída e que lhes dá direito à admiração universal. nõ é nada disso ... é a exibição de um gosto extravagante e fútil.

os favelados não abitam uma cultura separada dos moradores da zona sul, eles tem que viver no mesmo mundo ideado em benefício dos que tem dinheiro. a favela apodrece e se agrava a medida que a economia cresce! com efeito, progresso significa mais pobreza e menos recursos para os favelados; e ao mesmo tempo, esse crescimento leva a uma exibição ainda mais frenética de maravilhas de consumo... aumentando ainda mais o abismo entre o desejado e o real. a medida em que a economia cresce a favela apodrece, e o objeto de desejo que antes já era distante, se torna ainda mais querido e mais distante.
tanto o morador da zona sul como o favelado foram transformados em consumidores, mas o favelado é um consumidor frustrado. os favelados não podem realmente se permitir as opções sofisticadas em que se espera que sobressaiam os consumidores; seu potencial de consumo é tão limitado quanto seus recursos. essa falha torna precária a sua posição social.

os favelados são uns estraga-prazeres meramente por estarem por perto, pois eles não lubrificam as engrenagens da sociedade de consumo, não acrescentam a prosperidade da economia com seu consumo insignificante. assim, são vistos como inúteis, no único sentido de "utilidade" em que se pode pensar numa sociedade de consumo. por serem inúteis são também indesejáveis. como indesejáveis, são naturalmente estigmatizados, viram bodes expiatórios. mas seu crime é apenas desejar ser como os moradores da zona sul... sem ter os meios de realizar seus desejos...

os moradores da zona sul os acham detestáveis, vergonhosos e ofensivos, mostrando-se incomodados com sua companhia indesejada, é por razões mais profundas que existe o tão badalado "custo público" de manter os favelados vivos. os moradores da zona sul tem horror dos favelados pela mesmíssima razão que os favelados encaram os moradores da zona sul como "ídolos": na sociedade capitalista o playboy e o assaltante são as duas faces da mesma moeda.
o favelado repito é o alter ego do morador da zona sul. a linha que os separa é tênue e nem sempre muito nitida. pode-se cruzar facilmente sem notar ...

esses felizes moradores da zona sul raramente se deixam perturbar pela idéia de que sua vida poderá se descarrilhar e descambar para a favela. e há alguns favelados irremediáveis que de há muito jogaram a toalha e abandonaram toda esperança de chegar algum dia a categoria de morador da zona sul.
e entre esses dois extremos há uma grande parcela, possivelmente uma maioria substancial da sociedade capitalista que não está bem certa de onde se encontra no momento e muito menos se sua posição atual prmitirá ver a luz do dia seguinte. afinal, empregos temporários, ações sobem e descem descontroladamente, habilidades desvalorizadas e superada por novas ou por maquinas, os bens que gostamos e nos orgulhamos hoje amanhã são obsoletos, bairros sofisticados tornam-se decadentes e vulgares. como nenhum seguro de vida protege o dono da apólice contra a morte, nenhuma política de segurança do estilo de vida do morador da zona sul o protege de desembarcar para a decadência financeira.

9 comentários:

  1. supremacismo?
    hegemonia?
    integracionismo?
    ideologia de dominação?

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  2. Recebeu o salve que mandei pela Jana?!
    rs...

    adiciona aí no msn:

    camillapreta@hotmail.com

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  3. vc tem razão o favelado não contribui em nada pra sociedade de consumo e lembre-se pro desenvolvimento tbm. O consumo está em volta de todos...até a caneta que você escreve paga imposto pra garantir a guerra do Iraque...cuidado nao confunda capitular desejos de uma classe com qualidade de vida gratuito...por isso que só quem muda a realidade é quem produz.

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  4. hehehehe.. bota a cara bandido!!! rs .. to brincando...

    vc dizer q o favelado não contribui para o desenvolvimento.. aí terei que discordar de vc meu caro amigo anonimo... o favelado não contribui para lubrificar as engrenagens da sociedade de consumo, ou seja, não acrescentam a prosperidade da economia com seu consumo insignificante... mas acho q vc esqueceu de perceber quem é a mão de obra produtora??!?

    não é que na favela não haja consumo de produtos, claro q há, é obvio! a questão não é essa!
    a questão é "a maneira como a sociedade atual molda seus membros, ditada primeiro e acima de tudo pelo dever de desempenhar o papel de consumidor!!! a norma que a sociedade coloca para seus membros é a capacidade e vontade em desempenhar esse papel. consumir"

    na favela nós não somos os consumidores .. somos os produtores que não consomem...
    sabemos muito bem q a favela não está na linha de produção da toyota... mas vc esqueceu de perceber quem é q dá o suporte pra essa linha de produção??? são os moradores de favela meu querido anonimo...

    o favelado não contribui pra sociedade de consumo! ele contribui pra parte produtora da sociedade atual que é a de consumo, então logo ele contribui pro desenvolvimento social sim... vc diz q é desejo de qualidade de vida gratuito como se nós da favela não trabalhasse... cuidado não confunda morador de favela com lumpen...
    é não sei se tá bem claro.. saí escrevendo .. mas qualquer parada a gente continua a conversa.. abraço!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Até imaginei você falando tudo isso pro Anônimo. rs

    Gostei da adequação dos termos [no texto do Bauman] à nossa realidade. = )

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  7. acho que agora entendi ...
    causa e efeito. pro bandido existir presisa do playboy; ter algo que ele queira ter e não pode, mas como o sistema é contraditório ele necessita de ideologia pra convencer a essa mão-de-obra que o que o produtor faz é o certo e o erro do marginal é injustificável. Eles nos menosprezam como classe, mas ao mesmo tempo precisam de nós pra sobreviver.
    Como estamos numa sociedade de consumo, vcê é o que tem, todas as relações se dão de maneira estética,útil e egoísta. A idéia de competição está posta em todos os momentos de nossa vida, pra eu me sentir feliz preciso saber que alguém é infeliz, e assim por diante .
    é, gostei !

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